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Entrevistas » Negócios PE - 40° Edição

Pelo empoderamento das mulheres

Entrevista com Silvia Cordeiro

Por Beto Lago, com fotos de Bosco Lacerda

Médica de formação, a secretária Sílvia Cordeiro é militante do Movimento Feminista. Essa história começou quando ela fez clínica médica pelo interior do Estado e começou a se dedicar ao trabalho social de empoderamento das mulheres. Foi fundadora do Centro das Mulheres do Cabo de Santo Agostinho, integrante da Rede Mulher e do Movimento Democracia do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo de Pernambuco. Em 2013, assumiu a Secretaria da Mulher da Prefeitura do Recife e, dois anos depois, após a chegada de Paulo Câmara ao Governo do Estado, assumiu a Secretaria da Mulher com a missão de dar continuidade à política de gênero idealizada pela antiga gestora, Cristina Buarque. Foi tão bem sucedida que atualmente trabalha ao lado de 177 municípios estaduais, em defesa dos direitos das mulheres e virou referência nacional, com programas de inclusão ao empreendedorismo. Nesta entrevista, Sílvia Cordeiro fala das políticas públicas, do acesso ao mercado econômico e das conquistas femininas.

Como estão sendo desenvolvidas as políticas públicas para mulheres no Estado?

É preciso registrar, principalmente a postura do ex-governador Eduardo Campos, que apostou em uma feminista para construir a política de gênero do Estado, convidando Cristina Buarque, reconhecida nacionalmente pelo trabalho com as mulheres. Esta Secretaria tem o objetivo de promover os direitos das mulheres em Pernambuco, buscando a interiorização dessas ações. Hoje, temos 12 coordenadoras regionais que levam o plano de atendimento ao Estado. É uma maneira de ter estruturas de conhecimentos em cada região. E, com este modelo, chegamos a 177 munícipios, atuando com os organismos locais e buscando o controle social efetivo desta política, através das diversas comissões permanentes das mulheres rurais, das mulheres lésbicas e bissexuais, das mulheres idosas e das mulheres negras.

Como está o projeto que busca garantir o acesso seguro das mulheres ao mercado de trabalho?

Faz parte das sete políticas da Secretaria promover a autonomia financeira das mulheres através do acesso ao mercado de trabalho. Olhamos para esta política como um momento de emancipação. O nosso modelo de autonomia caminha junto com a formação socio política das mulheres. Entendemos que as mulheres vão ter maioridade quando tiverem a dimensão da sua função na sociedade. A mulher não tem que ter uma atividade econômica apenas para sair da pobreza. Ela tem que compreender a história, compreender a economia, compreender como funcionam os poderes, como funciona o Estado e os municípios para que possa estar inserida como uma cidadã no ambiente econômico do qual participa.

Por exemplo?

Nós temos o Chapéu de Palha Mulher. Um programa que pensa as mulheres das culturas sazonais, como a cana-de açúcar, a fruticultura irrigada da região de Petrolina, a mandiocultura de Araripina, a cultura de pesca do nosso litoral. Este programa é feito junto como Sistema S (formado por Sesi, Senai, Sesc, Senac, IEL, Senar, Senat, Sest, Sebrae, Sescoop), junto com as organizações feministas locais e articulando com parceiros da iniciativa privada para que essas mulheres deixem estas atividades do assalariamento nestas culturas, migrando para seu próprio negócio, através do empreendedorismo. E, ao se empoderar junto com outras mulheres, buscando uma nova alternativa de renda. Essas mulheres vão progredir na sua qualidade de vida. Esse projeto ganhou um prêmio internacional da ONU, em 2012, de Promoção da Inclusão de Gênero no Serviço Público, reconhecido como um grande programa de inclusão socioeconômico das mulheres e já atingiu mais de 82 mil mulheres.

E o Comitê do Trabalho Decente?

Outro projeto, com um olhar para a trabalhadora doméstica, que é o setor que inclui o maior número de mulheres de baixa renda e escolaridade, na fase adulta. É um trabalho conjunto com o Ministério do Trabalho, o Sistema S, a Previdência Social e as organizações de mulheres para pensar esta política de inserção no mercado de trabalho. Nós temos o papel de intermediar para aparecerem as oportunidades. É um programa de inserção econômica, com o objetivo de proporcionar a disputa de uma oportunidade no mercado em igualdade de condição. É um processo que vem crescendo, com o apoio dos empresários. Só para dar um exemplo: conseguimos inserir algumas mulheres na fábrica da Fiat, por conta da habilidade que tinham com costura, para trabalhar com os bancos de couro dos carros. Que as mulheres percebam essa oportunidade não apenas pelo lado financeiro, mas para outras perspectivas.

A Secretaria da Mulher acaba trabalhando diretamente com todas as demais secretarias do Estado. Consegue absorver esta demanda?

Sempre se disse que a Secretaria da Mulher, a de Igualdade Racial e a de Diversidade Sexual são secretarias de segmentos. Elas têm um formato de intermediar, de articular políticas públicas. Que é um desafio muito grande, diante de um Estado brasileiro conservador, que foi pensado para a escola, a saúde, a segurança. O que é que a Secretaria da Mulher diz? A sociedade é feita de homens e mulheres. Cada um tem suas especificidades. É preciso que o Estado brasileiro planeje suas ações não apenas pela população demandante uniforme. O que é que o Estado oferece para a classe média? É só pagar imposto e não ter serviço de qualidade? O que é que oferece para uma mulher negra que mora em uma área com difícil habitabilidade? Enfim, tem que se planejar isso. Trabalhamos com as mulheres pobres, buscando tirá-las dessa situação através do conhecimento. Buscando conceito da igualdade de oportunidades. Não ofertamos serviços, mas estamos juntos quando a Secretaria de Saúde planeja a saúde para as mulheres. Ou seja, para que os órgãos da administração pública planejem para homens e mulheres, e é muito importante esta inter-relação entre as secretarias.

A violência ainda é o principal problema enfrentado pelas mulheres?

A violência não é a principal, mas será sempre uma questão forte para a política de gênero. O único serviço que a Secretaria presta é abrigar mulheres em situação de morte. Mulheres que se não forem protegidas e que podem ser assassinadas. A Secretaria de Segurança não tem esta expertise para tratar este tema. Para lidar com a violência sexual e risco de morte é com a Secretaria da Mulher. Claro, precisamos da Segurança Pública, precisamos da Justiça. Articulamos com estes poderes para o serviço. É um trabalho desafiante e temos indicadores que modificaram o Estado.

A Secretaria virou referência nacional?

Sim, a Secretaria da Mulher de Pernambuco é referência em políticas públicas todo o País. Em 2015, a única referência no relatório da ONU Mulheres foi a nossa secretaria, com o programa Chapéu de Palha Mulher. Demos continuidade a gestão que promove o trabalho de empoderamento das mulheres no interior e na Região Metropolitana. 

O governador Paulo Câmara seguiu a cartilha de Eduardo Campos?

O governador Paulo Câmara teve a ousadia de colocar, em um decreto, que o percentual de 5% do FEM (Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Estadual) é obrigatório para investir no desenvolvimento das mulheres. Vale salientar que algumas prefeituras já estão com esta visão. Tem prefeito que dobra o que está colocado em decreto. Eles estão compreendendo a importância de trabalhar com as mulheres. Claro, isso precisa de um tempo, de cultura, de compreensão social. A sociedade quando compreender a pertinência desta política verá que ela não terá volta.

 

As mulheres brasileiras representam 45,4% da população ocupada, de acordo com o IBGE, mas ainda sofrem desvantagens como a desigualdade salarial.

Isso é uma evidência que tem muito a ver com a cultura patriarcal. No mundo desenvolvido, em que as mulheres conseguiram chegar mais perto da igualdade, ainda existe essa questão. Vamos recordar que, na entrega do Oscar de 2014, a atriz Patricia Arquette (vencedora de melhor atriz coadjuvante), chamou atenção ao pedir igualdade de gênero, denunciando que nos Estados Unidos as mulheres recebem cachês menores que os homens. Temos estudos que dizem que a igualdade de gênero fará bem a economia. Onde tem igualdade de gênero ? ou próximo dela ? o PIB é alto, mais elevado, a sociedade é mais civilizada e existe maior bem-estar social.

E falta uma maior ação das mulheres, principalmente na gestão das empresas e na política?

As mulheres estão no mercado, estão trabalhando fora de casa, passam em concursos públicos, mas ainda estamos longe de estar na alta gestão das empresas, na direção dos conselhos, no primeiro escalão da gestão pública. Pernambuco nunca teve uma governadora. A nossa representação feminina na Câmara e na Assembleia Legislativa é aquém. Isso é um indicador de atraso no Brasil. Na economia, avançamos na paridade, mais ainda estamos longe. Trabalho igual, salário igual. Nos baixos salários, ainda vemos igualdade. Na questão técnica, a mulher perde. Mas na formação superior, a mulher vence. E,quando chega no mercado do trabalho, perde. Isso é fruto da atitude patriarcal, do conservadorismo da sociedade por ainda achar que o homem é provedor da família. Não é fácil mudar a cultura de um país como o Brasil, com uma sociedade atrasada. Mas podemos mudar!

E as leis ajudaram?

Foram importantes. A Lei Maria da Penha, a criação de várias delegacias e instituições voltadas à temática da mulher. Foi uma luta, mas é preciso destacar que com a Justiça que temos jamais iria se pensar em uma Maria da Penha. Com o Estado que temos jamais iria se pensar em uma Secretaria da Mulher. O máximo seria uma forte política de assistência social. Avançamos, com a mulher tendo autonomia.

Quais os objetivos para o futuro?

Trabalha-se muito na Secretaria, na busca pela mudança de atitude. Mas é altamente gratificante e apaixonante participar deste momento, de construir um mundo melhor, mais democrático. Estamos controlando a violência da mulher no Estado e não vamos descansar enquanto este número não chegar a zero.

Municípios assistidos pela Secretaria da Mulher graças ao FEM

87 Municípios que enviaram propostas para análise

11 Municípios com propostas aprovadas

28 Propostas aguardando ajustes e documentos complementares 

Valor total dos planos de trabalho: R$ 1.981.150,00

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